Desafios de Alice
- teiadesaberessite
- 2 de fev. de 2023
- 5 min de leitura
Começamos o ano letivo de 2021 bastante animados, afinal era o primeiro ano da Alice na escola. Iniciamos em fevereiro e sua adaptação foi bem tranquila, não chorou nos primeiros dias. Estava sempre animada para ir à escola. Em março Alice gripou, e, claro, não foi a escola por alguns dias, logo em seguida a escola suspendeu suas atividades presenciais, ficando apenas com as aulas on-line.
Nos revezamos entre computador e celular, pois também estava em trabalho remoto. Depois de alguns testes a escola percebeu como era cansativo ficar as quatro horas na frente do computador e esse tempo foi melhor estabelecido de acordo com o andamento da turma.
Assim permanecemos por um bom tempo, até que as aulas retornaram optativas e escolhemos permanecer em casa. Entretanto, como a maioria dos alunos estavam em sala e não tinha como fazer em menor tempo, sempre desligávamos a aula quando percebia que Alice estava cansada, as vezes ela se recusava, pois queria ver a tia e os amigos. Mas quase sempre pedia para desligar, sempre tentei mostrar a ela quando não estava “legal”, lê-se cansativo.
Quando falávamos em retornar a escola, Alice se recusava, dizia que não estava com saudades. Não insistíamos, pois, estava acompanhando as atividades (mesmo eu sobrecarregada) ao máximo. Tivemos um dia em junho que poderia ir aula vestida de caipira, nessa semana já estávamos tentando uma nova adaptação. Mas sempre com muito choro e resistência. Dos cinco dias da semana, ela participava da aula presencial apenas uma ou duas vezes. Nessa ocasião ficamos muito animados, pois achávamos que ela poderia retornar o interesse pela escola.
Mas não foi o que aconteceu. Permaneceu com muita resistência. Tentamos mais vezes, entre brigas e choros, até as férias escolares. Sempre conversamos sobre escola e sua importância e ela não queria tocar no assunto. Não teve nenhum acontecimento na escola que fizesse com que ela não retornasse. Isso foi crescendo com ela ao longo do período que ficou em casa.
Assim que as aulas retornaram, saiu um decreto do estado do Espírito Santo para que as aulas presenciais fossem obrigatórias e apenas on-line para alunos que apresentassem comorbidades.
Fiquei sem chão, pois sabia o que estava por vir. Na mesma semana Alice passou mal e precisou ficar de atestado por alguns dias e em seguida passou mal novamente. Nesse tempo fez as atividades com a minha ajuda, sem aulas on-line.
Eu e Leandro nesse tempo procuramos algumas literaturas para entender o comportamento dela, algumas conversas com pessoas próximas também nos ajudaram. Parece que não, mas essa situação desestrutura toda uma rotina e os sentimentos ficam confusos.
Nós como os adultos da relação, sentíamos que precisávamos nos mostrar capazes de resolver o problema ou, pelo menos, tentar. Iniciamos as idas para escola, mas ela se mostrava inconsolável, me agarrava e não deixava eu ir embora, por cansaço, desgaste e tristeza sempre a trazia de volta para casa.
Confesso que melhorei 90% do meu comportamento, sabendo acolher minha menina nesses momentos. Sabedoria e paciência precisam ser exercidos diariamente. Ainda no mês de agosto a supervisora me chamou para conversar, tentar ajudar nesse processo de adaptação.
Decidimos que na semana seguinte eu e Leandro levaríamos Alice juntos para a escola. Assim fizemos, Leandro começou a levá-la até a sala de aula. Ela mudou o comportamento em relação a ida. Me indagou uma vez se meninos não choravam, já que o pai não chorou para deixá-la na escola. Nesse momento percebemos que meu choro era um canal de insegurança para ela.
Tentei permanecer mais firme nesse sentimento que tanto me incomodava, ansiedade era algo presente nos momentos que se aproximavam de sair de casa. Também paramos de dar ênfase a assuntos relacionados a escola, na realidade diminuímos essa palavra e focamos nas falas que ela trazia. Se não comentasse nada no dia sobre a aula, só íamos conversar quando fossemos fazer as tarefas de casa.
Na segunda semana de setembro, decidimos que apenas eu retornaria com Alice para escola e fizemos assim, sem avisar. E ela nem perguntou. Chegando na escola chorou muito e permitiram que eu entrasse com ela até a sala, fizemos isso por uma semana. Depois disso, me pediram para entrar até o meio do caminho com ela, mesmo assim, alguém tinha que vir a seu encontro, pois ela se recusava a ir para sala sozinha. Nenhum desses dias ela entrou sem chorar.
Na segunda quinzena de setembro ela se mostrou mais participativa, interessada e isso facilitou o processo. Falou que não choraria para entrar na escola e pediu para ir para sala sozinha, mas ainda não conseguia. Os choros diminuíram, ela se sentiu triste quando aproximava-se da porta da escola e precisava se despedir, sempre dizia que sentiria saudade.
Já as saídas da escola são alegres e, por isso, sabemos que ela se sente bem lá dentro, o problema estava sendo o entrar na escola e se afastar de mim. As vezes ela pedia para eu ficar no carro do lado de fora, esperando a hora dela sair. Por algumas vezes fiz isso, mas agora retorno para casa. (Moramos quase 20 Km de distância da escola, um trajeto de quase 30 minutos, pegando estrada de chão).
Evoluímos muito e na primeira semana de outubro ela passou a entrar sozinha e sem choro. Sempre se despede com um abraço e um beijo, dizendo que ficará com saudades. Pra minha surpresa certa vez uma amiguinha esperou ela na frente da escola, para lhe dar um presente e nesse dia elas entraram juntas (senti meu coração transbordar de alegria).
Refletindo sobre a adaptação escolar da Alice, penso em dois caminhos que podem ter influenciado esse processo. Primeiro sobre o parto: uma cesariana por opção (por falta de informação e medo) que logo após teve grandes consequências, quando tive hemorragia no pós-parto. Fiquei longe da minha filha por algumas horas, pelas dores que senti por muitos dias, por precisar de ajuda por mais de 40 dias. Foi necessário “re”nascer em outro parto para superar o primeiro.
A segunda reflexão vem quando retorno ao trabalho com Alice com apenas cinco meses de idade, onde não foi fácil minha adaptação a nova rotina. A justificativa para deixá-la com minha sogra era que eu precisava trabalhar na ESCOLA. Acredito que esse nome ouvido desde dos 5 meses até os quase 4 anos de idade, podem ter influenciado na adaptação escolar. Uma vez que precisei me afastar dela para estar no trabalho.
Mesmo retornando ao trabalho com ela nessa idade, ela não desapegou e sempre foi muito ligada a mim. É uma criança tranquila, de personalidade forte, que me coloca no nível máximo de qualquer sentimento.
Cada criança é única e devemos respeitar e acolher cada etapa, mas é preciso buscarmos conhecimentos e orientações, através de literaturas e profissionais, isso vale para os pais e também para a escola.

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